Djanira da Motta e Silva (Avaré/SP, 1914 – Rio de Janeiro/RJ, 1979)

Pintora, gravadora, ilustradora e muralista. Uma das vozes mais singulares da arte brasileira, conhecida por retratar com precisão poética o cotidiano, o trabalho, os costumes populares e a religiosidade.

Djanira nasce em Avaré e passa parte da juventude no interior de Santa Catarina, onde trabalha em lavouras familiares. De saúde frágil, muda-se para o Rio de Janeiro em 1937 para tratar-se de tuberculose no Sanatório de Santa Teresa — experiência que, mais tarde, marcará profundamente sua iconografia. No Rio, começa a pintar de maneira autodidata, produzindo retratos, naturezas-mortas e cenas de cotidiano. Sua primeira formação artística sistemática ocorre em 1940, no ateliê do pintor Quirino Campofiorito, que a incentiva a desenvolver seu estilo próprio.

A partir da década de 1940, Djanira aproxima-se do meio artístico carioca e expõe no Salão Nacional de Belas Artes e no Salão de Arte Moderna, recebendo atenção da crítica por sua abordagem direta, sintética e profunda da vida popular brasileira — sem exotismo ou idealização. A artista retrata trabalhadores urbanos, comunidades rurais, rituais religiosos, cenas domésticas, procissões, festas populares, paisagens de Santa Catarina, do Rio de Janeiro e do Nordeste.

Mesmo frequentemente associada à “arte ingênua” ou à “representação primitiva”, Djanira tem formação sólida, pesquisa rigorosa e domínio compositivo sofisticado. Sua paleta clara, o contorno estruturado, o desenho seguro e a observação precisa revelam uma artista consciente e plenamente integrada às discussões modernas de sua época. A crítica e os estudiosos ressaltam que ela não é naïf, mas sim uma modernista que escolhe deliberadamente representar o Brasil profundo e trabalhador.

Em 1950, realiza sua primeira exposição individual e, no mesmo ano, viaja para a Europa e para Nova York, onde estuda gravura e amplia seu repertório técnico. Aproxima-se dos muralistas mexicanos e, de volta ao Brasil, cria importantes murais e painéis para igrejas e instituições, incluindo obras para a Igreja do Bom Sucesso (RJ) e para a Basílica de Nossa Senhora de Fátima.

A década de 1950 marca sua conversão ao catolicismo, momento em que sua produção incorpora temas religiosos com intensidade crescente. Surge então uma de suas séries mais emblemáticas: retratos de freiras, romarias, procissões e cenas do cotidiano conventual. A artista vive longas temporadas em conventos, onde observa e convive com comunidades religiosas, aprofundando a relação entre arte e espiritualidade.

Nas décadas de 1960 e 1970, dedica-se também à xilogravura, técnica que a aproxima das tradições populares brasileiras. Expõe em diversas instituições nacionais e internacionais, incluindo a Bienal de São Paulo, a Bienal do México e importantes mostras nos Estados Unidos e na Europa.

Em 1979, morre no Rio de Janeiro, deixando uma obra extensa, coerente e profundamente brasileira. Em 2016, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) realiza uma grande retrospectiva que consolida Djanira como uma das maiores artistas do país, ressaltando seu papel na construção de uma modernidade enraizada na cultura popular e na experiência cotidiana.