Flávio de Carvalho

Flávio Resende de Carvalho (Amparo da Barra Mansa, Rio de Janeiro, 1899 – Valinhos, São Paulo, 1973)

Engenheiro, pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor e teatrólogo, Flávio de Carvalho destacou-se pela atuação no teatro e por performances inovadoras que anteciparam procedimentos artísticos desenvolvidos no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Mudou-se com a família para São Paulo em 1900 e estudou em Paris e na Inglaterra, cursando engenharia civil e artes. Retornou a São Paulo em 1922, pouco depois da Semana de Arte Moderna, iniciando uma trajetória marcada pelo experimentalismo e pela provocação em diversas áreas artísticas.

Na arquitetura, participou de concursos públicos, sendo seus projetos considerados pioneiros do modernismo no Brasil, embora apenas dois tenham sido realizados: o conjunto de casas da Alameda Lorena (1936/1938) e a Fazenda Capuava (1939), esta última sintetizando suas ideias inovadoras de integração entre decoração e espaço arquitetônico. Em 1930, sua conferência A cidade do homem nu conecta-se ao movimento antropofágico, e, em 1931, sua polêmica performance Experiência n. 2 testa os limites de tolerância de uma procissão religiosa, gerando grande repercussão.

Carvalho também fundou o Clube dos Artistas Modernos (1932) e o Teatro da Experiência (1933), promovendo a vida cultural em São Paulo e inovando na cena teatral com performances e espetáculos experimentais que mesclam teatro, dança, cenografia, figurino e iluminação. Sua pintura, expressionista com traços surrealistas, se intensifica nas décadas seguintes com obras como os retratos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Julieta Bárbara (1939), caracterizados por pinceladas densas, cores vibrantes e forte expressividade.

Nas décadas de 1950 e 1960, Carvalho amplia seu experimentalismo com desenhos, aquarelas, gravuras e pinturas de nus femininos, além de explorar materiais inovadores, como tinta fosforescente para luz negra. Destaca-se ainda pelo ativismo cultural, pela irreverência e pelo questionamento das convenções sociais, como no desfile com o traje tropical masculino New Look em São Paulo, consolidando-se como precursor do artista multimídia e da performance experimental no Brasil.