Fulvio Pennacchi

Fulvio Pennacchi (Toscana, Itália, 1905 – São Paulo, 1992) foi pintor, ceramista, desenhista, ilustrador, gravador e professor. Sua obra articula referências clássicas — sobretudo do primeiro Renascimento italiano — com uma sensibilidade moderna pautada pela simplicidade, harmonia e pelo interesse constante pela figura humana, pela natureza e pela temática religiosa. É considerado um dos introdutores da técnica do afresco na cidade de São Paulo, contribuindo decisivamente para a consolidação da pintura mural no Brasil.

Sua formação tem início em Lucca, no Regio Istituto di Belle Arti, onde estuda com o pintor Pio Semeghini. Em 1929, ao mudar-se para o Brasil, sua paleta assume tons mais terrosos, e suas composições tornam-se mais sintéticas e dramáticas, como observa o historiador Tadeu Chiarelli. Entre 1930 e 1932, atua no desenho publicitário influenciado pela visualidade moderna italiana — marcada pelo futurismo e pelo retorno à ordem — embora nunca tenha se filiado a nenhuma vanguarda.

A partir de 1935, passa a frequentar o ateliê de Francisco Rebolo no Palacete Santa Helena, integrando o núcleo que ficou conhecido como Grupo Santa Helena, vinculado ao modernismo paulista de segunda geração. Ao lado desses artistas, participa da Família Artística Paulista (FAP) e desenvolve uma pintura que equilibra o rigor clássico com a observação direta do cotidiano urbano e rural. Suas cenas de trabalho, devoção, descanso e vida simples aproximam-se da vertente social do modernismo, preservando, ao mesmo tempo, uma delicadeza formal de matriz renascentista.

Durante esse período, Pennacchi participa de expedições dominicais com o grupo para os arredores da cidade, onde pinta paisagens nas quais a figura humana aparece sempre integrada ao ambiente — marca distintiva de sua produção. Suas referências incluem Paul Cézanne e mestres italianos como Giotto e Masaccio, cujas soluções espaciais e cromáticas reverberam em suas composições equilibradas e silenciosas.

Indicado por Galileo Emendabili, assume em 1936 o cargo de professor no Colégio Dante Alighieri. Paralelamente, inicia a produção de afrescos e painéis para igrejas, hotéis, residências e edifícios institucionais, desenvolvendo de maneira autodidata a técnica mural que viria a inaugurar em São Paulo. Entre suas obras centrais está o ciclo de afrescos criado para a Igreja Nossa Senhora da Paz, em 1941.

A partir de 1952, o contato com Rossi Osir e com a indústria de porcelanas de Cândido Cerqueira Leite desperta seu interesse pela cerâmica. Pesquisa argilas brasileiras e desenvolve soluções próprias de textura e cor, criando vias-sacras, santas ceias, figuras humanas, pássaros e peças utilitárias que reforçam o diálogo entre tradição e experimentação.

Após período de relativo recolhimento, retoma as atividades expositivas nos anos 1970, produz novas séries em cerâmica com a artista Eunice Pessoa e volta às grandes pinturas murais. Sua obra ganha reconhecimento ainda em vida, com livros publicados por Pietro Maria Bardi (1980) e posteriormente por Valério Pennacchi, que organiza e sistematiza sua produção gráfica e mural.

De vocação humanista e sólida formação técnica, Fulvio Pennacchi constrói uma linguagem na qual o legado renascentista se harmoniza com o espírito moderno. Sua obra atravessa pintura, desenho, cerâmica e muralismo, sempre orientada pelo olhar atento às paisagens e às cenas do cotidiano, que transforma em composições de grande serenidade e força poética.