Manoel Martins (1911–1979)

Pintor, gravador, desenhista, escultor e ourives – figura central do Grupo Santa Helena e da arte social paulistana

Manoel Martins, nascido no bairro do Brás em São Paulo, constrói uma trajetória singular que transita entre o ofício artesanal e a afirmação artística. Inicia-se como ourives ainda jovem, em 1924, e posteriormente trabalha como relojoeiro e comerciante. A partir de 1931, porém, retoma sua vocação artística ao estudar com o escultor Vicente Larocca e frequentar cursos na Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), ambiente que o aproxima da efervescente cena modernista paulistana.

Em meados da década de 1930, passa a integrar o Grupo Santa Helena, convivendo com Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Fulvio Pennacchi, Mario Zanini e outros nomes fundamentais da modernidade paulista. Em 1937, une-se também à Família Artística Paulista (FAP). Esses círculos, marcados pela espontaneidade, pelo aprendizado coletivo e pelo afastamento das academias tradicionais, moldam sua linguagem plástica.

A partir do final dos anos 1930, Martins amplia sua atuação para as técnicas de gravura — linóleo, madeira e, mais tarde, metal — tornando-se um dos membros do grupo mais profundamente identificados com a produção gráfica. Sua obra se distingue pela forte dimensão social, abordando a vida cotidiana das classes trabalhadoras, a paisagem urbana em transformação e o anonimato na grande metrópole. Suas cenas paulistanas, muitas vezes reconstruídas no ateliê a partir da memória, equilibram a dureza da industrialização com uma sensibilidade quase lírica, preservando, como destacou Mário Schenberg, uma “pureza primitivista” que confere encanto às suas composições.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Martins desenvolve séries de grande densidade dramática, evocando cidades devastadas, naufrágios e outros temas inspirados no conflito — obras que revelam diálogos com o expressionismo e com a produção de Lasar Segall. Seu interesse pela cultura brasileira também se manifesta nas ilustrações de livros, como O Cortiço e Bahia de Todos os Santos.

Ao longo de sua carreira, Manoel Martins consolidou-se como um cronista da vida paulistana e um observador atento das tensões sociais de seu tempo. Sua produção gráfica e pictórica permanece como testemunho vívido da São Paulo que se modernizava rapidamente nas décadas de 1930 e 1940 e da sensibilidade humana que permeia toda a sua obra.