Victor Brecheret

Victor Brecheret (Farnese, Itália, 1894 – São Paulo, 1955) foi um dos maiores escultores brasileiros e figura central do modernismo, responsável por introduzir no país novas linguagens plásticas que fundem tradição europeia e identidade nacional. Sua obra transita entre a dramaticidade expressiva e a síntese formal, marcada pela exploração de materiais como mármore, bronze e terracota, e por temas que vão do religioso e alegórico ao indígena e popular.

Formado no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (1912), estudou em Roma com Arturo Dazzi, aproximando-se do naturalismo de Rodin e do expressionismo monumental de Ivan Mestrovic. De volta ao Brasil em 1919, chamou a atenção de modernistas como Mário e Oswald de Andrade e Di Cavalcanti, que reconheceram nele um artista capaz de romper com o academicismo. Dessa fase surgem obras como Ídolo e Eva, de forte dramaticidade, e a primeira maquete do Monumento às Bandeiras (1920), sua mais ambiciosa criação.

Bolsista em Paris a partir de 1921, Brecheret enriqueceu seu repertório ao dialogar com o cubismo, o art déco e a síntese formal de Brancusi. Essa pesquisa se materializou em peças como Tocadora de Guitarra (1923) e Mise au Tombeau (1923), no Cemitério da Consolação. Embora ausente fisicamente, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 com 12 esculturas, entre elas o célebre Cristo de Trancinhas, que causou polêmica e inspirou Mário de Andrade em Paulicéia Desvairada.

A partir da década de 1930, fixou-se em São Paulo, recebendo importantes encomendas públicas. Em 1953, concluiu o monumental Monumento às Bandeiras, síntese de seu estilo: formas monumentais, síntese volumétrica, movimento coletivo e acabamento que privilegia a matéria bruta.

Nos anos 1940 e 1950, voltou-se à cultura indígena, criando obras como Índia e o Peixe (1947/48) e Luta dos Índios Kalapalos (1951), em que dialoga tanto com arquétipos nativos quanto com a abstração moderna de artistas como Henry Moore e Hans Arp. Nessa fase, atingiu o ponto mais original de sua produção, elaborando esculturas que evocam a sacralidade da natureza e a ancestralidade brasileira.

Entre a dramaticidade expressiva das primeiras obras e a pureza formal de suas últimas criações, Brecheret construiu uma obra vasta e singular, que sintetiza influências europeias e raízes brasileiras, tornando-se um dos grandes responsáveis pela consolidação de uma escultura moderna e autenticamente nacional.