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Bate-papo com Anna Paes


Quando as artes plásticas entraram na sua vida?

Quando criança, desenhando com giz de cera e lápis de cor.

'Contrapeso 2', série 'Mutação'

 

Como você 'escolheu' trabalhar como artista?  

Sou formada em Artes Visuais e também em Ciências Sociais. Trabalhei no Museu de Tecnologia de São Paulo, com projetos artísticos em oficinas para crianças de escolas publicas, e depois trabalhei em uma ONG com um projeto de educação ambiental, dando aulas para crianças da comunidade Jardim Pantanal em São Miguel Paulista. Também trabalhei no Instituto Socioambiental (ISA), sendo bolsista no projeto de educação indígena no Alto Rio Negro na Amazônia.

Acho que não foi uma escolha trabalhar como artista, as experiências de vida e os caminhos foram levando e mostrando para mim o que hoje sou e faço.

 

Do que você precisa quando está criando?

Não sigo uma rotina no meu ateliê. O processo de trabalho sempre começa com uma pesquisa em cada série de trabalho que se inicia. E, muitas vezes, uma série leva a outra.

Meu ateliê é em casa. Sempre busco o silêncio para trabalhar. O que acontece muitas vezes, é que, em residências artísticas que costumo ir, ou até mesmo em viagens que costumo fazer, coleto materiais, à campo, dentro do assunto da minha pesquisa no momento e começo a trabalhar no projeto lá, seja na residência ou numa viagem e o finalizo na volta ao ateliê. Os materiais que coleto, mais a vivência e observações dos lugares, são o que me inspiram para criar.

 

Nos fale um pouco sobre seu processo criativo.

O processo criativo vai surgindo conforme as ideias e estudos que a pesquisa propõe. O trabalho começa sempre de maneira intuitiva dentro da escolha de materiais que me proponho a trabalhar em cada série.

Acho que o mais difícil para mim no processo criativo é no início da pesquisa, do projeto, até as ideias estarem formadas e eu ter a certeza do que quero antes de começar o trabalho.

Para mim, cada trabalho é uma busca constante para dar início a outro, ou mesmo a outra pesquisa, um exercício sem fim.

A série Topogeografia, por exemplo, começou com uma pesquisa do estudo de mapas geológicos digitais de diferentes regiões do mundo. Esses mapas serviram como referência para os trabalhos feitos com lápis de cor, aquarela, nanquim, pigmento natural, giz de cera e feltro. O feltro adicionado aos trabalhos teve grande importância por criar forma e volume ao desenho e a pintura sobre tecido, como também para pensar uma nova forma de cartografia poética territorial marcada por mudanças climáticas e políticas. Onde encontro uma presença igualitária tanto da força quanto da fragilidade que permeiam ações políticas e naturais. Onde é questionado o conceito de vulnerabilidade.

Abaixo, exemplos de duas referências de mapas geológicos que foram utilizados para produzir a Série Topogeografia.

Referência de mapa geológico da região de Vêneto, na Itália, utilizado
para a elaboração de Topogeografia IV

 

Referência de mapa geológico da Austrália utilizado para
a elaboração de Topogeografia III

 

Quais os principais materiais e técnicas que você utiliza? Como é sua relação com cores? 

Os principais materiais que utilizo atualmente no trabalho, são materiais como o giz de cera, cera de abelha, lápis de cor, pigmento natural, aquarela, nanquim, tinta acrílica, gesso acrílico, lã, papel japonês, tecido, sedimentos, terra, serragem e água.

As técnicas que tenho utilizado são mistas como a costura, colagem, desenho, pintura, serigrafia, fotografia, intervenção digital, instalação e site specific.

A relação com as cores para mim se dá através da procura de cores distintas.

 

Como você encontrou sua linguagem?

Acho que a linguagem do trabalho é uma expressão de como o artista se expressa no mundo (como uma identidade de cada um) com a prática ela vai se aperfeiçoando e amadurecendo junto com a pessoa. Comigo tem sido assim.

Acho que meu interesse por assuntos ambientais e sociais sempre teve um peso no meu trabalho e acredito que isso tenha ajudado muito a reforçar e fortalecer minha linguagem.

 

Nos conte sobre sua investigação sobre a paisagem, geologia, sedimentação e os desdobramentos dessa pesquisa em seu trabalho.

A pesquisa/investigação sobre questões ligadas ao meio ambiente sempre foi o que me fez pensar o trabalho. A paisagem, geologia, sedimentação me fazem pensar no tempo, na memória. Como também tem feito eu “ir para o espaço”, sair do papel, utilizando materiais como a terra, serragem, água e produzir instalações e site specifics. Mas tanto no papel como de forma escultórica, no “espaço”, os desdobramentos da pesquisa no meu trabalho aparecem como uma introspecção que segue uma influência existencialista, a qual é movida por sentimentos internos que se expressam através dos trabalhos.

 

Por quais artistas você é influenciada e/ou admira?

Antoni Tàpies, Agnes Denes, Robert Smithson, Richard Serra, Ana Mendieta, Andrew Goldsworthy, Helen Frankenthaler, Mira Schendel, Tunga, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Arthur Bispo do Rosário entre outros.

 

Nuutsiu


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